13/10/16

CARTA PARA UMA MADRINHA DE GUERRA 

"Era colonial" 
 Fui atirado para aqui Angola, para o centro de uma guerra cruel e absurda que não é minha. Falam em condescendência mas tantos são os agravos á surda justiça dominando com as armas, regando com sangue as bandeiras da discórdia para justificar sem justificação a falta de compreender e aprofundar um povo. 
Deploram as condições do homem com os seus estandartes que por capricho degolam-se uns aos outros. E neste incurável fatalismo fatigado por poeirentos caminhos, esgotado às vezes de medo...recebo a tua carta impregnada por uma saborosa injecção de ingenuidade alheia ao mundo que lança uma sólida ponte entre o passado e o presente. 
Foste o meu encanto e apesar de nunca nos termos amado, abraçam-nos as cartas, umas vezes a chorar e outras com verdadeira ternura. E à noite depois de horríveis infortúnios do dia, leio e raleio demoradamente as tuas cartas, deitado sobre as ervas secas como se fosse um leito de pétalas de rosa. Vou partir, mas deixo o meu coração em África com o sol, a lua e todas as luzes existentes no firmamento. 
Se me perguntarem se te amei... 
direi que sim, com o corpo e coração... 
que foste uma alma só minha. 

Tenho de agradecer ao carteiro por te ter encontrado.

Samuel Pena
Foto colhida na Net

Sem comentários:

Enviar um comentário